segunda-feira, 5 de novembro de 2012
Por espetáculos sem tempos mortos
“Sofrível” qualifica alguma coisa? O espetáculo “Tuttotorna”, do CIRCO TEATRO GIULLARI é realmente muito muito ruim ou sou eu que envelheci cedo demais? O espetáculo da companhia ítalo-brasileira é letárgico, sem graça, com mais filosofia do que circo de verdade. Aqui ou ali se vê um ou outro número que mal dá para entusiasmar e já cai novamente no tédio de ações mal alinhavadas, como se os dois “artistas” em cena não soubessem muito bem o que tinham de fazer. Brochante! Puro encher linguiça para matar o tempo.
Sai do teatro lembrando de Almir Rodrigues que um dia me falou da vontade de abrir uma entidade que, se não me falha a memória, se chamaria SEDI (Sociedade dos Espectadores com Direito a Intervenção), na qual a plateia teria o direito de parar o espetáculo para interpelar os atores. “Ô meu, quem foi que te mandou fazer essa merda ai, rapaz?”, “Porque é que vocês perderam tanto tempo para isso ai?”, “Você tá querendo matar o meu tempo, filho? Tempo é vida, sabia? Me ofereça algo vivo, pulsante, inteligente, faz favor!”
E, creiam, por vivo não entendo somente espetáculos com acrobacias e pirofagia abundante. Pode ser algo como o “Esperando Godot”, de Beckett, dirigido pelo João Denys em meados da década de 1990, aonde não acontecia nada, mas a atmosfera pesava de significação. Era muito vivo e de uma inteligência fodida.
Mas o trabalho de ontem, pelo amor de Deus! É claro, contudo, que deve ter agradado a uma ou outra pessoa presente no Teatro Apolo (Em Recife). Sempre há quem extraia grãos de ouro de puro esterco, quem consiga (como Midas) fazer merda virar ouro. Mas a pergunta que fica mesmo é: porque diabos é que a curadoria achou por bem chamar este trabalho para compor a grade de programação do FESTIVAL INTERNACIONAL DE CIRCO DO BRASIL? Muito distante em termos de qualidade do “Maravillas”, da L’Ateneu Popular 9 Barris (da Espanha) e de “A Carta”, de Paolo Nanni (Dinamarca). Aqui sim trabalhos que dignificam a ocupação do palco e da vida do espectador... sem tempos mortos!
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