quinta-feira, 22 de novembro de 2012
Pessoas e coisas
Há coisas tão desprezadas que lembram
pessoas em abandono.
Assim o tijolo que sobrou da construção,
o retrato além do número e que ficou
entre estranhos na gaveta
do fotógrafo, a palavra no dicionário, vizinha
da que saiu para o poema.
E mais a palavra sem acolhimento pelo próprio ouvido;
o poema no canto da mesa, excluído
do livro a publicar,
e o morto do outro enterro.
Mas há pessoas em tal abandono que lembram
coisas desprezadas, Senhor, que não ouso, expô-las
no poema, receoso de que, descobrindo-se ao sol,
duvidem da Tua Justiça e da Tua Misericórdia.
Geraldino Brasil
Do livro Poetas da Rua do Imperador. Recife, Pool, 1986.
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