terça-feira, 28 de julho de 2015

Então...

Então...
Quando me apaixonei pela primeira vez, não sabia o que era paixão. Só sentia uma saudade medonha quando ela não estava por perto. Ficava desenhando mentalmente as feições de Leninha, mas sem conseguir traçar bem as curvas, as cores, as reentrâncias, o perfume, o jeito moleca.
Um dia a segui, sem que me percebesse, até a sua casa, que ficava próxima a padaria do bairro. Dai em diante, fins de tarde, queria ir sempre comprar pão. Minha mãe estranhou aquilo, aquela disponibilidade surpreendente para descer a rua, quando sempre me negava a ir. Passei a pentear mais o cabelo, a botar perfume, a não ir tão desarrumado. Queria passar na frente da sua morada, e havia um trecho do caminho em que andava em câmera lenta, para ver se ela me via, para ver se eu conseguia vê-la. Uma vez a encontrei lavando louças no quintal num vestidinho-inho-inho de chita, colorida e cheia de espuma nas mãos. Linda, me viu, parou um momento o que estava fazendo e me sorriu.
Assim, a partir desse instante breve (que durou muito para soverter-se em minha imaginação), sempre que estava distante dela redesenhava seus contornos, as suas curvas,  as suas formas, mentalmente. E quando se presentificava, quando de repente estava frente a frente com ela, sentia o terremoto tomando corpo: frio na barriga (ou seriam borboletas?), tremores nas mãos, um nó na garganta, gagueira súbita e um formigamento intenso nas pernas. Era um cataclismo. E foi assim, desequilibradamente, que descobri o que era estar apaixonado.
Anos depois, quando comecei a fazer de teatro, perto da minha primeiríssima estreia, na velha capela de São José, no Córrego do Jenipapo (Casa Amarela), sabendo que em poucos minutos entraria em cena para fazer algo que só eu poderia fazer, com a minha voz, meu suor, meu corpo, minha vida, meu afeto, fiz outra nova descoberta (para mim) fantástica: é que outra vez me vieram os tremores, outra vez o frio (borboletas?) na barriga, outra vez o formigamento e uma vontade insana de fazer xixi. Era algo tão poderoso quanto encontrar Leninha, era desestabilizador. E demorava um ou dois segundos para sentir o mundo aquecer, depois que entrava em cena. É assim ainda, quando retorno aos palcos (agora mais dirigindo as encenações do que trabalhando nelas como ator), todos os sintomas, surpreendentemente, me retornam, fixam-se em mim, me desestabilizam.
Agora neste início de agosto são vocês, meus amores, meus colegas, meus amigos, do Curso de Interpretação para Teatro (SESC Santo Amaro), que estarão entrando em cena para uma aventura intensa e cheia de paixão com a Leninha de vocês.
Eu, ali sentado na platéia, no escuro, vou torcer por cada instante. E vou pedir aos deuses todos que os iluminem com luz, sucesso e aprendizado renovado em cada novo projeto que vocês se meterem. Vai ser bom! Vai ser foda!
Uma vez, numa de nossas primeiras aulas, falei sobre a grande diferença entre SER APAIXONADO e SER APAIXONANTE. Que uma pessoa com paixão é coisa boa, mas que uma que seja capaz de incendiar os outros com a sua paixão é supremo. Que possamos incendiar com a nossa paixão os que entrarem em contato conosco. Que seja combustão pura. Que seja luz e calor. Agora, estrelas, é chegada a hora de brilhar. Vão lá e arrasem!

Saudades de vocês, saudades de todos, saudades de tudo.