quinta-feira, 8 de novembro de 2012
Murnau, Aurora e Bram Stoker
Foi assim: um dia, na casa do bom Almir, lemos um artigo do Olavo de Carvalho, que eu tinha descoberto via Zottan. O artigo era sobre “Aurora”, filme de F.W. Murnau, de quem eu já tinha assistido “A Última Gargalhada” (1924), por si somente, um trabalho inestimável, feito ainda na fase alemã, mas que está longe ainda da pujança de “Aurora”, filme em preto e branco, mudo, mas de uma eloquência avassaladora, de uma beleza que não dá para descrever aqui: cheio de símbolos, metáforas, mistérios, plasticamente inacreditável, com uma narrativa repleta de surpresas e atuações inenarráveis (ganhou 03 Oscars, inclusive o de melhor atriz para Janet Gaynor).
Murnau se formou em História da Arte na Universidade de Heidelberg, foi piloto da Força Aérea alemã na Primeira Guerra Mundial e depois virou assistente de Max Reinhardt no teatro. Em 1919 estreou no cinema ao dirigir Der Knabe in Blau. Realizou uns trabalhos menores no cinema até que veio a dirigir Nosferatu (Nosferatu, o Vampiro, 1922): livre adaptação de “Drácula”, de Bram Stoker (autor, cuja data de nascimento, há 165 anos, se comemora exatamente hoje). Interessante saber que o diretor foi acusado de plágio pela viúva de Stoker, que exigiu a destruição de todas as cópias do filme.
Em 1927, agora já morando nos EUA, ele filma “Aurora”, um drama sobre um camponês que resolve matar afogada a sua legítima esposa para viver com a amante da cidade grande, mas desiste de última hora. Somente isso? Não, não é somente isso, cara pálida. Parece simples assim, mas é dessa ideia aparentemente banal que o diretor nos dá socos no estômago e nos põe diante de uma desconcertante poesia, delicada e comovente, sem ser nem um pouco piegas.
Murnau morreu em um acidente de automóvel na Califórnia, em 1931. Tinha então apenas 43 anos de idade. Infelizmente, para todos nós. Mas a sua obra precisa ser vista. Com urgência urgentíssima.
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