Dois personagens confinados num espaço insólito, em um tempo oculto.
Para abrir a porta e transpassar esse mundo burlesco no qual estão
retidos, é preciso responder corretamente a uma pergunta antes
daquelas pessoas – o público – irem embora. Os motivos para que isso
aconteça são vários e enumerados pelos próprios personagens. No entanto,
algo as (nos) motiva a ficar: a magia que o Grupo Tróia de Taipa traz
para o palco. A peça Tempo que não é rompe barreiras convencionais e dá
lugar a fadas, sonhos, lendas, imaginação. Uma ingenuidade rara nos
tempos atuais compõe essa montagem, onde os conflitos também estão
presentes.
Três sinais ao longo da peça indicam que o tempo está se esgotando e o momento de responder à pergunta se aproxima. É preciso fazê-lo logo se quiser sair daquela espécie de limbo. E os personagens de Fabiana Coelho e Rita Marize querem. Não há um sentido lógico para esse querer, uma vez que os personagens contemplam o outro lado – onde está o público – sem que fique claro se algum dia eles já fizeram parte desse mundo do qual tanto almejam fazer parte. Ora, mas a montagem dispensa esse tipo de lógica. O texto, uma criação coletiva do Tróia de Taipa, transborda uma coesão interna que justifica tudo o que é apresentado, mesmo diante da falta de coerência que sobra para o espectador.
A direção da peça fica a cargo de Quiercles Santana, que poderia ter imprimido um ritmo maior à encenação. Aquele espreguiçar todo logo no início é maçante, assim como alguns outros momentos. Mas nada que ofusque o encantamento que caracteriza Tempo que não é. Os recursos sonoros e a iluminação impecável de Lilian Kellen contribuem decisivamente para esse vislumbre. O figurino também corresponde perfeitamente ao que é sugerido e as atrizes dão um show de interpretação. A risada de Rita Marize desarma qualquer espectador mais desconfiado. Assim, o grupo Tróia de Taipa cumpre ao que se propõe com a encenação da peça.
No entanto, uma inconstância não pode deixar de ser observada, considerando que a montagem é voltada para o público adulto: há um horizonte enorme que poderia ter sido mais bem explorado, com questionamentos mais profundos acerca das escolhas que cada um de nós fazemos. Essas questões já são suscitadas no espetáculo, mas de maneira superficial. O ambiente lúdico – característico quando se quer falar de lendas e fadas – poderia estar menos presente ou ser menos intenso, com mais inserções de hiatos – os momentos em que as atrizes falam por si mesmas, lendo poemas ou cartas.
Por que os personagens precisam, necessariamente, falar como crianças? Uma opção estética que não deixa de ser acertada, mas que acabou por limitar a encenação, deixando dúvidas acerca do público-alvo da peça. Os adultos são menos sensíveis – ou escolhem ser assim –, de modo que é preciso utilizar outros recursos para se chegar até eles. Para aqueles que se deixam levar pela sensibilidade e abraçam a proposta do Tróia de Taipa, a experiência de fazer parte de alguma forma desse Tempo que não é é simplesmente encantadora.
Três sinais ao longo da peça indicam que o tempo está se esgotando e o momento de responder à pergunta se aproxima. É preciso fazê-lo logo se quiser sair daquela espécie de limbo. E os personagens de Fabiana Coelho e Rita Marize querem. Não há um sentido lógico para esse querer, uma vez que os personagens contemplam o outro lado – onde está o público – sem que fique claro se algum dia eles já fizeram parte desse mundo do qual tanto almejam fazer parte. Ora, mas a montagem dispensa esse tipo de lógica. O texto, uma criação coletiva do Tróia de Taipa, transborda uma coesão interna que justifica tudo o que é apresentado, mesmo diante da falta de coerência que sobra para o espectador.
A direção da peça fica a cargo de Quiercles Santana, que poderia ter imprimido um ritmo maior à encenação. Aquele espreguiçar todo logo no início é maçante, assim como alguns outros momentos. Mas nada que ofusque o encantamento que caracteriza Tempo que não é. Os recursos sonoros e a iluminação impecável de Lilian Kellen contribuem decisivamente para esse vislumbre. O figurino também corresponde perfeitamente ao que é sugerido e as atrizes dão um show de interpretação. A risada de Rita Marize desarma qualquer espectador mais desconfiado. Assim, o grupo Tróia de Taipa cumpre ao que se propõe com a encenação da peça.
No entanto, uma inconstância não pode deixar de ser observada, considerando que a montagem é voltada para o público adulto: há um horizonte enorme que poderia ter sido mais bem explorado, com questionamentos mais profundos acerca das escolhas que cada um de nós fazemos. Essas questões já são suscitadas no espetáculo, mas de maneira superficial. O ambiente lúdico – característico quando se quer falar de lendas e fadas – poderia estar menos presente ou ser menos intenso, com mais inserções de hiatos – os momentos em que as atrizes falam por si mesmas, lendo poemas ou cartas.
Por que os personagens precisam, necessariamente, falar como crianças? Uma opção estética que não deixa de ser acertada, mas que acabou por limitar a encenação, deixando dúvidas acerca do público-alvo da peça. Os adultos são menos sensíveis – ou escolhem ser assim –, de modo que é preciso utilizar outros recursos para se chegar até eles. Para aqueles que se deixam levar pela sensibilidade e abraçam a proposta do Tróia de Taipa, a experiência de fazer parte de alguma forma desse Tempo que não é é simplesmente encantadora.
Por George Carvalho (EM 11 DE SETEMBRO DE 2006)
http://cinecritica.wordpress.com/2006/09/11/tempoquenaoe/
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