terça-feira, 24 de abril de 2012

SEGUNDA-FEIRA É DIA AMARGO...

Eu nem sei por onde começar.
Talvez pela lembrança do que dizia minha tia, convicta de direita, quando isso não tinha sido reduzido a referências de direção: quando eles entrarem no poder, vai ser com um projeto de governo de pelo menos 20 anos. É verdade. Mas o que incomoda não é isso. Muitas mudanças positivas aconteceram no país nestes últimos anos. O que me fere a humanidade é a perversidade com que alguns gestores da antiga esquerda tocam a coisa. É muito melhor uma anta amiga do que um golfinho questionador.
Hoje soube notícias tristes sobre decisões equivocadas de gestores, nem todos públicos: a Livraria Poty, recém-aberta depois de tanta luta (contra gestores públicos municipais - os mesmos que autorizam fácil a construção de torres e a remoção de viadutos), fecha as portas de repente. Decisão da sede, em Natal - motivo: concentrar o trabalho. E as pessoas que trabalhavam na rua do Riachuelo? E as famílias destas pessoas? E os consumidores recifenses que voltavam a respirar os ares de uma livraria sua, bem no centrão da cidade. Eu gosto da Livraria Cultura. Mas a Poty era casa, cheiro de café (que eu nem tomo), bolo de laranja, gerente e vendedores risonhos, conversadores, que conheciam os clientes pelo nome e batiam papo quando a gente chegava lá.. Meu Deus! O que farão todos aqueles poetas que se reuniam barulhentos nas mesas do café, que já estava pequeno pra quantidade de visitantes. É isso, né? Alguém decide desligar as pessoas. Simples assim.
E o que a política tem a ver com isso?
É que falta poesia no mundo, sim, professora. Eu sinto falta. Não de poetas e poetisas, escritores. Esses devem ser uns quinhentos mil, só nessa cumbuca que é o Recife. Eu sinto falta é de POESIA. Aquela coisa que há em alguns livros, filmes, espetáculos de teatro, dança, em paisagens, pinturas, nas obras de arte, no olhar das pessoas que foram ao show de Paul, na música, no parceiro encantado com a vida, na criança que descobre um segredo.
Na pessoa que demitida porque disse a verdade dos fatos, porque defendeu sua convicções legítimas, que não vendeu sua ideologia a partido nenhum. Naquela figura que professa a fé na arte e na cultura, que milita por uma causa de vida, por inteiro, por completo, sem par/ti/do. Na beleza que é ver a força surgir da certeza de que o caminho segue, o trabalho permanece, a militância agora é que pega fogo mesmo, porque um salário, companheiros, não paga uma pessoa.
Você esqueceram de aprender as lições do essencial humano. Todos que acham certo demitir pessoas porque elas discordam ou porque não são viáveis. Todos que defendem publicamente a remoção de vias públicas de alta importância para o coletivo, em detrimento de meia dúzia de novos ricos que decidiram comprar (para vender, mais valorizado, é claro) a parte mais ventilada dessa cidade cada vez mais estranha.
É divulgando como suas as ideias de profissionais que investiram tempo precioso pensando em como resolver os problemas que vocês sequer conseguem admitir que existem.
Companheiros, sinto falta de vocês nas oposição. Porque eram ótimas pedras, dedos na ferida, gritaria legítima. Por favor, voltem a fazer o que vocês sabiam fazer. Vitrine blindada não é democracia. Vigilância ostensiva, foi isso que vocês aprenderam enquanto estavam perseguidos? Não é tempo disso mais não, minha gente. O mundo mudou. As pessoas mudaram. As consciências, principalmente as de vocês, precisam se expandir também. 

Eu sei que esse desabafo não vai mudar nada, mas, se foi a utopia que trouxe vocês aqui, posso acreditar que ainda há salvação. Nem que seja a roda viva, que muda a posição do jogo.
É impossível não lembrar da genialidade de Chico (o Buarque), quando diz que "amanhã vai ser outro dia". A transitoriedade de vocês nos lugares onde estão é ainda maior do que a nossa de estar vivo. Não vivi muito, mas sei que a graça da vida é que aquele que tentou nos jogar na sarjeta, um dia desses, em breve poderá estar lá, nos vendo passar sorridentes.
Minha solidariedade - que não é nada, nem muda nada - a todos que nestes últimos dias foram excluídos da brincadeira porque alguém, que não sabia jogar, achou que era o certo a fazer.
... MAS TEM REMÉDIO.
Eu sou utópica. Continuarei. E vou cantando com os Chicos - porque talvez o César tenha uma noção melhor das coisas, porque é artista, porque chora, porque é gente e tem sensibilidade.
A vocês, que ainda se seguram por aí, aproveitem, porque o dia chega.

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A Elis Costa e família, Beth "de artesanato", todos os amigos da Livraria Poty/Recife, e aquelas figuras que admiro, mas nem vou dizer os nomes, porque podem ser demitidas pelo simples e maravilhoso fato de ser geniais, competentes, gente (quem diria que isso ia virar adjetivo um dia).





ANA PAULA SÁ

segunda-feira, 23 de abril de 2012

A Paul Mccartney


À despeito da nossa vida pobre, prosaica, da sujeira da cidade, das coisas tristes que andam a acontecer na política, na polícia, na saúde; apesar das lágrimas e perdas e danos, prevalece por alguns instantes a canção, a poesia, a vida.
Eu não fui e não vi. Infelizmente para mim. Mas sinto ainda os efeitos, a reverberação do acontecimento, nos sorrisos largos, nos olhares, no entusiasmo de quem foi e viu e narra com emoção o presenciado. E isso já me basta, já me consola, estranhamente, de algum modo, me alivia e me felicita.
Muito obrigado, Paul, pela gentileza de fazer o Recífilis melhor, mesmo que apenas por duas noites somente.