“A
impressão que eu tenho é de não ter envelhecido, embora eu esteja instalada na
velhice.
O tempo
é irrealizável. Provisoriamente, o tempo parou pra mim ... provisoriamente!
Mas eu
não ignoro as ameaças que o futuro encerra, como também não ignoro que é o meu
passado que define a minha abertura para o futuro.
O meu
passado é a referência que me projeta e que eu devo ultrapassar. Portanto, ao
meu passado eu devo o meu saber e a minha ignorância, as minhas necessidades,
as minhas relações, a minha cultura e o meu corpo.
Que
espaço o meu passado deixa pra minha liberdade hoje? Não sou escrava dele. O
que eu sempre quis foi comunicar da maneira mais direta o sabor da minha vida,
unicamente o sabor da minha vida.
Acho
que eu consegui fazê-lo; vivi num mundo de homens guardando em mim o melhor da
minha feminilidade. Não desejei nem desejo nada mais do que viver sem tempos
mortos.”
Simone
de Beauvoir
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