segunda-feira, 14 de junho de 2010

AO ANJO DO SÓTÃO, QUE BATEU ASAS E VOOU...

Amanheceu hoje um dia cheio de chuvas.
Daqueles que eu gosto, de parar a cidade.
Aproveitei e fui caminhar um pouco por aí,
Pelas ruas desertas da casa amarelinha,
Sem galochas ou guarda-chuvas
Para poder me molhar mais,
Pra sentir a vida úmida dos tempos de junho,
Assim bem juntinho a mim de novo.

E enquanto perambulava peguei você mais uma vez,
Anjo barroco, sobrevoando os meus pensamentos!
Lembrei do sábado último, naquele abraço derradeiro,
Já no finzinho de tudo, trêmula, no fiapo de coragem,
Debaixo do velho pé de manga, a me pedir perdão.

Perdão pelo quê mesmo?
O que há exatamente para ser perdoado, que eu não entendi?
Nada de nada, pelo que eu saiba.

Tudo o que sei e sinto,
É que é chegado o momento de você realmente partir agora.
Afinal, você tinha e continua tendo razão:
A gente tem de estar ao lado de quem a gente ama mesmo,
Isso se quem a gente ama quer também a gente por perto.
Não é assim que deve ser?
Não abra a mão de sua felicidade!
Você deve ir e fazer tudo o que acha que é certo ser feito,
Tudo o que acha ser justo, tudo o que sentir ser belo,
Tudo o que lhe parecer verdadeiro, bom e necessário.
Com inteireza, sem fragmentação, sem olhar para traz,
Sem remorsos ou amargura.

Vai, então, pode ir tranqüila.
Vai lá ver como o mundo é
Vasto
E amplo
E alto
E profundo
E cheio de mistérios!
Vai viver e correr riscos.
Vai descobrir coisas novas
(Uma pelo menos a cada dia!)
Sem tantos medos!

Vai sentir que a vida vale a pena, sim!
Vai espiar o que está no além das curvas,
Sem chefes, sem algemas,
Sem bussolas ou astrolábios,
Sem pára-quedas ou bandeid,
Sem esperar por mais nada ou ninguém.

Não esperar (você lembra?!) é tudo de bom que há
Numa alma que quer de verdade ser feliz.
A felicidade (lembra?),
Os pequenos momentos cintilantes,
São feitos da matéria do inusitado,
Quando a vida nos faz surpresa e nos presenteia.
É preciso sonhar, sim!
E sonhar é impreciso (como viver também o é)
E é por causa dessa imprecisão, dessa imponderabilidade,
Que a gente costuma chamar
A vida de aventura.

Não serei mais a sua companhia,
Por ora,
Nas boas e novas aventuras que hão de vir,
(Quem sabe de novo lá na frente qualquer dia?)
Mas você vai bem daqui pra frente, sem mim, tenho certeza.
Vai melhor do que imagina
Por que já pode ir sozinha,
Por que já é suficientemente forte
E livre e dona de seu nariz!

Guarde isso em seu coração,
Como um segredo valioso, moça:
Haverá instantes em que vou sonhar
O quanto seria bom tê-la ainda aqui comigo
Me acariciando como a chuva se derrama pelas ruas.
Perdurará por um tempo longo em minha memória
O desenho de seu rosto agridoce,
Numa noite fria,
Montada num cometa veloz
Na estrada de barro batido
Que leva a fazendas velhíssimas.
E assim, nesses dias de chuva, como hoje,
Sentirei de novo o quanto lhe sou agradecido por tudo.

Por agora, nestes primeiros instantes sem você,
Sinto muito a sua falta, é verdade,
Mas a dor da ausência passará, sabemos.
Depois que passar, depois que se puser,
Vou salvaguardar você em meu coração,
Junto a outras preciosas lembranças.
Prometo!

J. M. Barrie, o pai de Peter Pan,
Costumava dizer que o que fazia a gente voar
Era ter bons pensamentos.
Que bons pensamentos, então,
Lhe levem e lhe elevem para longe,
Para o alto, para onde o seu coração desejar ir.
Sem culpas, desculpas e, principalmente,
Sem lágrimas.
Porque tristeza é o que torna as asas pesadas.
E é por isso que anjos tristes não alçam vôo.

Beijos, beijos, beijos.
E, no mais que pode, sê feliz.


http://www.youtube.com/watch?v=VR0zLZEfPM0&NR=1

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