“O
teatro é uma experiência muito forte, como se implicasse um despertar da
consciência. É um CONHECIMENTO QUE CHEGA A CADA ESPECTADOR ATRAVÉS DO CORPO. Durante
a representação, alguma coisa se revela no núcleo corporal do espectador. ISSO
TEM A VER COM A SOLIDÃO DE CADA UM. Mas o teatro permite partilhar essa solidão
com outras solidões. Cada solidão é igual dentro do coletivo chamado ‘público’,
e procura a revelação de si mesma. O público é composto por essa justaposição
de SOLIDÕES DESCONHECIDAS que, de repente, durante a representação, formam um
só corpo. (...) O teatro, da forma como o concebo, é um aparato capaz de DESPERTAR
O OLHAR do espectador. Nós precisamos partilhar o olhar, é uma necessidade. Mas
não se trata de simples curiosidade, do olhar sem profundidade da comunicação,
fixo, monótono como uma câmera de vigilância, sem nenhum campo de tensões. O olhar
do teatro, que podemos partilhar durante o espetáculo, é, ao contrário, um OLHAR
HIPNÓTICO, que se MOVIMENTA, é capaz de TRANSFORMAR E ‘FORMAR’ AS COISAS QUE VÊ
(...) É o olhar do corpo, extremamente físico: funciona como um poro da pele por
onde passam os humores, as emoções, as sensações e também o conhecimento. Os gregos
chamavam isso de EPOPTEIA, o olhar de Elêusis, que é uma forma de engajamento: ELE
CRIA A FORMA QUE OLHA, é carregado da maior POTÊNCIA possível. Portanto, é
necessário passar pela força original do olhar, o que implica CONFIAR NO
ESPECTADOR, DAR-LHE O PODER DE CRIAR, POR MEIO DO OLHAR, O ESPETÁCULO QUE VÊ. E
o poder de criar é dado a todos. Meu espectador ideal seria aquele que entrasse
no teatro por acaso: SEM FERRAMENTAS INTELECTUAIS, seu olhar é totalmente SENSAÇÃO,
conhecimento por meio dos SENTIDOS, pura ABERTURA FÍSICA à representação, PORO
ABERTO AOS AFETOS que vêm da cena.”
ROMEO CASTELLUCCI
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