quinta-feira, 7 de maio de 2015

“O teatro é uma experiência muito forte, como se implicasse um despertar da consciência. É um CONHECIMENTO QUE CHEGA A CADA ESPECTADOR ATRAVÉS DO CORPO. Durante a representação, alguma coisa se revela no núcleo corporal do espectador. ISSO TEM A VER COM A SOLIDÃO DE CADA UM. Mas o teatro permite partilhar essa solidão com outras solidões. Cada solidão é igual dentro do coletivo chamado ‘público’, e procura a revelação de si mesma. O público é composto por essa justaposição de SOLIDÕES DESCONHECIDAS que, de repente, durante a representação, formam um só corpo. (...) O teatro, da forma como o concebo, é um aparato capaz de DESPERTAR O OLHAR do espectador. Nós precisamos partilhar o olhar, é uma necessidade. Mas não se trata de simples curiosidade, do olhar sem profundidade da comunicação, fixo, monótono como uma câmera de vigilância, sem nenhum campo de tensões. O olhar do teatro, que podemos partilhar durante o espetáculo, é, ao contrário, um OLHAR HIPNÓTICO, que se MOVIMENTA, é capaz de TRANSFORMAR E ‘FORMAR’ AS COISAS QUE VÊ (...) É o olhar do corpo, extremamente físico: funciona como um poro da pele por onde passam os humores, as emoções, as sensações e também o conhecimento. Os gregos chamavam isso de EPOPTEIA, o olhar de Elêusis, que é uma forma de engajamento: ELE CRIA A FORMA QUE OLHA, é carregado da maior POTÊNCIA possível. Portanto, é necessário passar pela força original do olhar, o que implica CONFIAR NO ESPECTADOR, DAR-LHE O PODER DE CRIAR, POR MEIO DO OLHAR, O ESPETÁCULO QUE VÊ. E o poder de criar é dado a todos. Meu espectador ideal seria aquele que entrasse no teatro por acaso: SEM FERRAMENTAS INTELECTUAIS, seu olhar é totalmente SENSAÇÃO, conhecimento por meio dos SENTIDOS, pura ABERTURA FÍSICA à representação, PORO ABERTO AOS AFETOS que vêm da cena.”


ROMEO CASTELLUCCI

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