quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Visitei minhas avós. 94 anos cada uma. A preta e a branca.
Cansadas de guerra, se queixam das dores que a vida longa lhes trouxe.
Choro quando lembro de que um dia correram atrás de mim, me deram colo e castigo.
A preta era um consolo no sítio sem luz. A gente ficava ouvindo rádionovela quando o candeeiro se apagava. Uma noite o meu dente danou-se a doer e a pobre varou a noite me ajudando no que podia. Nas minhas férias voltava a Aldeia, para o sítio dela, e o mês voava ligeiro, num instante estávamos no fim e tinha de voltar para casa, o que nem sempre me era feliz.
A branca uma vez me deu uma baita surra por que eu perturbava até a criatura pedir clemência a Deus. E, por causa da pisa, levei um tempo odiando estar na sua presença.
Mas ambas são sagradas para mim e imagino que não durarão tanto mais, tendo em vista a idade adiantada (embora eu mesmo possa deitar antes delas em terra fria).
O meu ex-sogro (pelo menos eu o tinha como um sogro, mesmo sendo apenas avô da minha ex-mulher) morreu com 106 anos. Adorava tomar um vinho tinto antes do almoço na sua taça de cristal. Era uma pessoa altamente elegante. Anos atrás, quando ainda era casado, encontrei Pedrinho chorando no quarto escuro, pouco antes de cair no sono.
- Que foi, meu filho?
- Saudades de vovô.
- Eu também, amor, sinto saudades dele.
Olhando as fotos da flor de Rita, torço para que ela tenha vida longa e cheia de alegrias. Por que no final é isso o que temos: momentos. Que seja, cada um deles, uma celebração à vida.

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