segunda-feira, 18 de novembro de 2013
Uma reflexão sobre «Baraka» (filme de Ron Fricke, 1992)
«Baraka» («espécie de poder espiritual hereditário», para certos sectores islâmicos do continente africano) é um ensaio multimedia arrojado, que coloca em perspectiva a diversidade e as contradições da natureza do homem, da natureza em si, e da natureza das relações humanas.
Expõe diferentes dinâmicas e ritmos do Universo, através de uma estética e sonoplastia poderosas (a música de uns Dead Can Dance não será um incidente, a ausência de um guião literário é uma virtude). Confronta-nos, ainda, com um dilema da estética: por um lado, a beleza da exaltação dos fenómenos naturais e dos ritos e rituais humanos, por outro, a beleza do apocalipse e da mecanização. Neste sentido, «Baraka» poderá ser um objecto artístico perigoso, se o receptor da mensagem não reflectir, não discernir, dentro da sequência de beleza compulsiva, uma qualquer moralidade, por vezes secundada pela estética. O desafio está, para o espectador mais exigente, nessa procura. O deslumbramento não chega para disfrutar, porque cega.
Há imagens marcantes, neste «documentário» amplo sobre a vida, o Homem, a sociedade, as religiões, as crenças e a economia, que petrificam: os loops do homem a trabalhar as máquinas, como se fosse exactamente uma máquina, como se o processo alucinante de produção industrial se confundisse com o processo de maquinização do homem; os pintaínhos a serem tratados como um qualquer produto de consumo desenfreado e descartável, espécie de peluches comestíveis; o hipnotismo, o mistério e a sincronia audiovisual de alguns rituais de tribos em paisagens remotas e quase virgens; ou a imagem da penúria e da procura de alimento, por vacas junto a mulheres e crianças, no meio de uma lixeira astronómica; a queda de uma árvore a devastar, a desequilibrar parte considerável do ecossistema circundante.
Enfim, «Baraka» é um buraco fundo, por descobrir e cobrir.
http://palhacacivica.blogspot.com.br/2009/10/uma-reflexao-sobre-baraka-filme-1992.html
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