quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

O presente

  “O que hoje recebes
  e não podes pegar, guardar
  em panos e papéis laminados,
  é imperecível,
  presente onipresente.
  Estás com ele na chuva
  e não temes que se desfaça.
  Estás com ele na multidão
  e não o escondes dos mutilados.
  O que não existe para os homens
  deles estará protegido,
  o que os homens não vêem
  não poderão espedaçar.
  Eis o que não te denuncia
  porque não tem face
  nem volume para ser jogado no mar.
  Eis o que é jovem a cada lembrança
  porque não tem data
  e série, para envelhecer.
  O que hoje recebes
  não pode ser devolvido.”


Alberto da Cunha Melo

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