sábado, 15 de novembro de 2014
Quebec Xavier foi uma das minhas poucas alegrias na UFPE. A gente sonhava em fazer um curta-metragem juntos. Tocava Billie Holiday numa vitrolae uma mulher receberia muitos homens: Ivo Barreto, Irandhir Santos e Calixto Neto estavam em nossas intençoes de elenco. Aí a moça fugiu comigo e me levou ao Ricardo Brenannd para me mostrar uma escultura delicada de uma dama da noite francesa, linda e que tinha a cara de Quebec! A questão é que pouco antes de entrar no Museu, dei de frente com um imenso e autentico Rodin! Um pensador! E caí no choro, sem direito a mais nada a não ser olhar, olhar, olhar...
Sabe, deu uma vontade de deixar tudo, tudo, tudo e ir por aí, mundo afora, nas estradas, sem rastros ou indícios de paradeiro. Um Chaplin desaparecendo na poeira da rua enquanto uma roda escura vai fechando pouco a pouco, impedindo-nos de saber exatamente em qual momento do caminho ele sumiu de fato.
O meu primeiro (e único) mestre de teatro foi Almir Rodrigues. Pacientemente tecer uma obra, sem desesperos. Saber errar, saber experimentar, trazer coisas novas e inesperadas, testar tudo de uma outra maneira, aprender a ver, aprender a ouvir uma imagem, aprender a se mover lentamente entre os destroços, duvidando de tudo o que nos dizem ser líquido e certo. Com Almir, aprendi a duvidar dos mestres, dele mesmo inclusive.
Eu e o Richard Bach. Se pudermos deixar uma ideia ganindo lá fora, a gente deixa. A questão é que às vezes a ideia não é um cachorrinho. A gente escuta a porta arrebentar e a ideia nos pegar pelo pescoço: "Ou nos bota no papel ou não te deixamos em paz". Quantas vezes guardei os papéis e o lápis e eles fizeram barulho a madrugada inteira sem me deixar dormir, bulindo, dentro da gaveta, até que eu voltasse a acender a luz e as escrevesse até o amanhecer!
Fui fazer teatro por que não sabia mesmo o que fazer de mim. Estava numa encruzilhada e aquilo era a única coisa que me fazia sentir mais vivo. Tinha dúvidas quanto a meus talentos (como ainda hoje é assim). Talvez devesse ter ido para outro lugar (talvez ainda deva). Mas a arte me abriu uma perspectiva que me é impossivel abrir mão (nem que seja como espectador)
Monteiro Lobato foi a primeira grande paixão literária. "Reinações de Narizinho" era um deleite para os meus 07 anos de idade. Temia que o livro chegasse ao fim. Li até a metade em poucos dias, mas o restante levei mais tempo porque regateava, para que não acabasse logo. Emília ainda é para mim a mais fantástica personagem feminina da Literatura Brasileira. Ah, que saudades daquele Sítio e das jaboticabas tiradas do pé!
Com Sérgio Leone, aprendi que cinema pode ser uma grande diversão. "Três Homens em Conflito", "Era Uma vez na América" são exemplos máximos disso: violento e tocante como é viver. Mas foi com Bergman que comecei a sentir que cinema podia ser um espelho doído da humanidade. E quando, numa noite de sabado, debaixo de muita chuva, acompanhado por uma namorada que sempre chegava atrasada aos encontros, entramos no Teatro Arraial para assistir ao "Sétimo Selo", (sabe-se lá em que ano), percebi que o mundo se transformava na justa medida em que o filme transformava a minha visao do mundo.
Quando, pela primeira vez, perdi um grande amor, pensei que fosse morrer. Levei meses para voltar a respirar direito. Para azar meu, faltavam 10 dias para o meu aniversário. E o bolo amargava como se fosse feito de fumo. Alguém tinha morrido e, incrível, parecia que esse alguém era nada mais nada menos que eu mesmo.
Um dia, por acaso, fui parar dentro de uma velha capela, numa comunidade da periferia de Recife. Estavam fazendo um Auto de Natal. Faltava a melhor iluminação, não havia um figurino lá tão bom, a maquilagem era canhestra, mas a vontade do elenco de fazer com que algo nos tocasse nos tocava de fato, verdadeiramente. No final, José e Maria fugiam pelo deserto e o elenco cantava uma música do Geraldo Azevedo. Assim mesmo. Um milagre então aconteceu: sem esperar o melhor dos espetáculos, fui abduzido pela força dos amantes.
Ter um filho foi uma experiência grandiosa… Não é algo tão besta quanto querem uns acreditar. Pelo menos, não foi para mim. Na tarde em que o vi face a face pela primeira vez, senti o mundo girar sob os meus pés. Parece, de repente, que nunca mais seremos os mesmos, que algo foi alterado pra sempre: é que alguém que não havia, agora há. Uma mágica tão contundente quanto aquela outra, só que inversa: alguém que havia, já não há mais.
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