Foi Patricio Guzmán, há anos atrás (sic), quem nos ensinou que a
memória é obstinada: as marcas da ditadura de Pinochet, apesar de
ocultas, escondidas e ignoradas, continuam vivas para quem queira e
saiba buscá-las. Sem rancor e com a mente aberta, pois como disse o
próprio Guzmán, durante a apresentação do seu último filme no Festival
de Cannes, “lembrar ajuda a construir o futuro”, este cineasta chileno
se enfrenta novamente com o arrepiante legado de Pinochet em um dos seus
mais brilhantes filmes, possivelmente o auge, até o momento, de uma
trajetória de compromisso político e poético, pessoal e patriótico, com
sua memória e a de seu país inteiro. Patricio Guzmán viaja ao norte do
Chile, às áridas terras do deserto do Atacama, para conectar dois pontos
tão distantes no espaço, quanto próximos no seu trabalho sobre a
memória: a astronomia e a busca dos cadáveres daqueles que sofreram a
represália da ditadura de Pinochet. Com seus telescópios gigantes os
astrônomos observam o passado no céu, as luzes que emitiam algumas
estrelas que talvez já nem existam, e, ao seu lado, as mães e esposas
dos desaparecidos arranham o chão e olham o que está mais próximo, em
busca também da memória do país e de suas famílias. Nunca a terra havia
estado tão perto de tocar o céu. Nunca houve tanta luz em uma tela de
cinema.
http://www.cineconhecimento.com/2012/12/nostalgia-da-luz/
Nenhum comentário:
Postar um comentário