sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Marina e Alberto




Principiou ontem, na unidade do Cais de Santa Rita, em Recife, a II Mostra SESC de Literatura Contemporânea. Tão bom, meu Deus!, encontrar a Colasanti, sábia sem amarguras, lúcida no seu olhar sobre a vida, o mundo, o tempo, a função do escritor, a efemeridade e a permanência das coisas e dos seres.
Tão bom sentir as marcas indeléveis que as palavras vão esculpindo na alma da gente, quando num susto alguém aparece voluntariosamente e recita um poema amado, composto por um poeta igualmente amado, mas já encantado dos calendários. Tão bom quando esse recitador, orador, bardo, põe alma no seu dizer e nos emociona, arrepios aos borbotões. Como nos presenteou ontem a viúva do Alberto da Cunha Melo.
A vida é ávida... mesmo!

O Presente

O que hoje recebes
e não podes pegar, guardar
em panos e papéis laminados,
é imperecível,
presente onipresente.
Estás com ele na chuva
e não temes que se desfaça.
Estás com ele na multidão
e não o escondes dos mutilados.
O que não existe para os homens
deles estará protegido,
o que os homens não vêem
não poderão espedaçar.
Eis o que não te denuncia
porque não tem face
nem volume para ser jogado no mar.
Eis o que é jovem a cada lembrança
porque não tem data
e série, para envelhecer.
O que hoje recebes
não pode ser devolvido.

Alberto da Cunha Melo

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