Paráfrase à Borges
Se morrer fosse minha função, traria em toda morte toda a vida possível.
Erraria como nômade, em tensão de percurso, seria tolo de todos.
Levaria a sério o amor e a natureza;
deixaria que os riscos em mim aflorassem.
Seria cabeça do céu,
de todos os céus,
alpinista de precipícios,
peixe dos rios,
investigador do insólito.
Beberia o mel de pequenas plantas e plantaria lírios dulcíssimos.
Teria problemas irreais e faria do imaginário minha razão.
(Eu fui uma pessoa insensata e de produção duvidosa em cada instante).
Tive tanta tristeza que a alegria me fez dom!
E se...
morrer fosse o objetivo, o eterno paradoxo, morreria mil vezes e viveria uma
porque é disso que é feita a morte – de vida!
Só de transições.
Se eu pudesse romper o irreversível, controlaria o tempo de tudo e de todos;
instrumentos musicais espalharia em cada canto e fundiria as 4 estações,
construiria ruas de sonhos
iluminaria os olhos com a luz do sol e pintaria as bocas com a prata da lua
me tornaria criança até o fim.
Se eu tivesse outra vez uma morte pela frente,
passaria a vida lendo Borges.
Almir Nilson Rodrigues
quarta-feira, 13 de outubro de 2010
terça-feira, 12 de outubro de 2010
CRUZADAS
o movimento suave
desliza na pele macia
que inspira o errante
em sua cruzada
caminhos
pernas
pelos
proibida caverna
que se deseja cego
mãos que cercam e circulam
no entorno de profundezas proibidas
fresta suada
que espera o gozo voraz do cavaleiro
em busca de sua princesa
acesa
ardente
tempo que revela
lentamente
o anseio de ver
de ter
de sentir
o que está por vir
o que desnuda a alma
corajosa
giro inconstante de uma imagem cega
quase morta de um profeta confuso
de um poeta em desuso
de uma certeza fria
de um bruxo ofegante
distante
vibrante
mãos
que obscurecem o desejo
e reafirmam a certeza
da cruzada primeira
dos caminhos nas linhas
sem destino.
Sem graal!
Eron Villar
ator, diretor e escrevedor de linhas de tortas
desliza na pele macia
que inspira o errante
em sua cruzada
caminhos
pernas
pelos
proibida caverna
que se deseja cego
mãos que cercam e circulam
no entorno de profundezas proibidas
fresta suada
que espera o gozo voraz do cavaleiro
em busca de sua princesa
acesa
ardente
tempo que revela
lentamente
o anseio de ver
de ter
de sentir
o que está por vir
o que desnuda a alma
corajosa
giro inconstante de uma imagem cega
quase morta de um profeta confuso
de um poeta em desuso
de uma certeza fria
de um bruxo ofegante
distante
vibrante
mãos
que obscurecem o desejo
e reafirmam a certeza
da cruzada primeira
dos caminhos nas linhas
sem destino.
Sem graal!
Eron Villar
ator, diretor e escrevedor de linhas de tortas
sábado, 9 de outubro de 2010
NINGUÉM É SUBSTITUÍVEL
Recebi queixa recente de um amigo que diz que faz semanas que não posto nada de novo aqui. Sei que desculpas de nada adiantam, mas é que a vida nos atira de lá pra cá e às vezes a gente fica devendo o prometido.
Quando pus como subtítulo deste blog “Escrever Para Não enlouquecer” foi para ser levado à sério no que me refiro à loucura. Escrever é um lenitivo para mim por que me reajusta e dá sentido à borrasca de idéias, pensamentos e sensações no qual estou submerso e muitas vezes me perco. Escrevo para encontrar um norte. Então vamos lá!
Soube recentemente que a Escola Pernambucana de Circo vai voltar com a temporada de "Ilusão - Um Ensaio Melodramático Circense", espetáculo que escrevi e dirigi em 2008, quando lá trabalhava como diretor artístico. Estou curiosíssimo de voltar a ver o trabalho, porque o elenco (composto de jovens e adolescentes) é quase totalmente outro e um elenco trocado pode alterar substancialmente uma obra que acontece ao vivo diante do espectador.
Uma pessoa não é igual a outra, um ator não é igual a outro, por isso é que eu acho que é impossível substituir quem quer que seja, ainda mais num espetáculo de teatro. Para mim a máxima é invertida: “ninguém é substituível; ninguém substitui ninguém; cada um é singular”. Pelo menos não se pode trocar um ator numa obra teatral, sem alterá-la. Substituir é alterar. Nem numa obra cinematográfica se poderá, eu acho. Façamos o exercício: Dustin Hoffman no lugar de Jack Nicholson no filme “Um Estranho No Ninho”, teria funcionado? Sim, acredito que teria. Mas numa outra clave. Certamente muito boa , porque se trata de um ator de alto calibre, mas não seria o filme que conhecemos. Um ator é um mundo diferente, um labirinto distinto de outro labirinto, diferente de outro mundo. As experiências podem ser parecidas, mas não são iguais. Por isso sempre que há substituição, a obra se altera. Não foi assim com a peça do Samuel Santos (“Cordel do amor Sem Fim”)? Vi o espetáculo no inicio do ano e depois agora a pouco no Festival de Inverno de Garanhuns. Distintíssimo! Outra coisa! Saiu uma atriz, entrou outra no lugar e o trabalho virou outro.
Almir Rodrigues, um homem de teatro a quem devo muito do olhar que lanço sobre as coisas, objetos e pessoas, que me ensinou a olhar e ver, mecanismos essenciais para quem se mete a dirigir teatro ou filme, sempre me falou que há coisas novas esperando para serem descobertas por aí, no meio mdo cotidiano, na paisagem circundante, na vida. Há algo mais instigante para quem lida com arte? Sem acreditar no mistério, se tudo já foi dito e feito, para que redizer e repisar o já por demais pisado e redito? Isso eu não quero pra mim. É preciso se imbricar numa seara nova: real, fantasiosa, verdadeira. É possível que a arte seja uma aventura com riscos, subidas, descidas, superfícies, texturas e profundidades? Sim, é. E nessa viagem cada piloto, como na vida, não será jamais ser passível de substituição.
Quando pus como subtítulo deste blog “Escrever Para Não enlouquecer” foi para ser levado à sério no que me refiro à loucura. Escrever é um lenitivo para mim por que me reajusta e dá sentido à borrasca de idéias, pensamentos e sensações no qual estou submerso e muitas vezes me perco. Escrevo para encontrar um norte. Então vamos lá!
Soube recentemente que a Escola Pernambucana de Circo vai voltar com a temporada de "Ilusão - Um Ensaio Melodramático Circense", espetáculo que escrevi e dirigi em 2008, quando lá trabalhava como diretor artístico. Estou curiosíssimo de voltar a ver o trabalho, porque o elenco (composto de jovens e adolescentes) é quase totalmente outro e um elenco trocado pode alterar substancialmente uma obra que acontece ao vivo diante do espectador.
Uma pessoa não é igual a outra, um ator não é igual a outro, por isso é que eu acho que é impossível substituir quem quer que seja, ainda mais num espetáculo de teatro. Para mim a máxima é invertida: “ninguém é substituível; ninguém substitui ninguém; cada um é singular”. Pelo menos não se pode trocar um ator numa obra teatral, sem alterá-la. Substituir é alterar. Nem numa obra cinematográfica se poderá, eu acho. Façamos o exercício: Dustin Hoffman no lugar de Jack Nicholson no filme “Um Estranho No Ninho”, teria funcionado? Sim, acredito que teria. Mas numa outra clave. Certamente muito boa , porque se trata de um ator de alto calibre, mas não seria o filme que conhecemos. Um ator é um mundo diferente, um labirinto distinto de outro labirinto, diferente de outro mundo. As experiências podem ser parecidas, mas não são iguais. Por isso sempre que há substituição, a obra se altera. Não foi assim com a peça do Samuel Santos (“Cordel do amor Sem Fim”)? Vi o espetáculo no inicio do ano e depois agora a pouco no Festival de Inverno de Garanhuns. Distintíssimo! Outra coisa! Saiu uma atriz, entrou outra no lugar e o trabalho virou outro.
Almir Rodrigues, um homem de teatro a quem devo muito do olhar que lanço sobre as coisas, objetos e pessoas, que me ensinou a olhar e ver, mecanismos essenciais para quem se mete a dirigir teatro ou filme, sempre me falou que há coisas novas esperando para serem descobertas por aí, no meio mdo cotidiano, na paisagem circundante, na vida. Há algo mais instigante para quem lida com arte? Sem acreditar no mistério, se tudo já foi dito e feito, para que redizer e repisar o já por demais pisado e redito? Isso eu não quero pra mim. É preciso se imbricar numa seara nova: real, fantasiosa, verdadeira. É possível que a arte seja uma aventura com riscos, subidas, descidas, superfícies, texturas e profundidades? Sim, é. E nessa viagem cada piloto, como na vida, não será jamais ser passível de substituição.
sábado, 2 de outubro de 2010
INSTANTES

Se eu pudesse viver novamente
a minha vida,
na próxima trataria de
cometer mais erros.
Não tentaria ser tão
perfeito, relaxaria mais.
Seria mais tolo ainda do que tenho sido;
na verdade, bem poucas pessoas levariam a sério.
Seria menos higiênico.
Correria mais riscos,
viajaria mais, contemplaria mais entardeceres,
subiria mais montanhas,
nadaria mais rios.
Iria a mais lugares onde nunca fui,
tomaria mais sorvete e menos lentilha,
teria mais problemas reais e menos imaginários.
Eu fui uma dessas pessoas que viveu
sensata e produtivamente cada minuto da sua vida.
Claro que tive momentos de alegria.
Mas, se pudesse voltar a viver,
trataria de ter somente bons momentos.
Porque, se não sabem, disso é feito a vida:
só de momentos - não percas o agora.
Eu era um desses que nunca ia a parte alguma
sem um termômetro, uma bolsa de água quente,
um guarda-chuva e um pára-quedas;
se voltasse a viver, viajaria mais leve.
Se eu pudesse voltar a viver,
começaria a andar descalço no começo da primavera
e continuaria assim até o fim do outono.
Daria mais voltas na minha rua,
contemplaria mais amanheceres
e brincaria com mais crianças,
se tivesse outra vez uma vida pela frente.
Mas, já viram, tenho 85 anos
e sei que estou morrendo.
(Poema de Nadiner Stair atribuído a Jorge Luis Borges)
SEGREDOS

Eu procuro um amor que ainda não encontrei
Diferente de todos que amei
Nos seus olhos quero descobrir uma razão para viver
E as feridas dessa vida eu quero esquecer
Pode ser que eu a encontre numa fila de cinema
Numa esquina ou numa mesa de bar
Procuro um amor que seja bom pra mim
Vou procurar eu vou até o fim
E eu vou tratá-la bem
Pra que ela não tenha medo
Quando começar a conhecer os meus segredos
Eu procuro um amor uma razão para viver
E as feridas dessa vida eu quero esquecer
Pode ser que eu gagueje
Sem saber o que falar
Mas eu disfarço
E não saio sem ela de lá
FREJAT
Veja o Clip:
http://www.youtube.com/watch?v=DrXa82roFS0&feature=related
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