“Todos choramos. Nascemos chorando.
Ninguém se lembra, mas que emoção dever ser, uma enorme emoção, essa de nascer,
de vir ao mundo. Até onde posso me lembrar, sei que chorei muito quando
pequeno. Chorei por um sim e por um não. Minha irmã mais velha ficava parada na
minha frente me olhando fixamente e me dizia: ‘Chore!’. E eu chorava. Chorei de
desgosto, chorei de tristeza, chorei de amor, chorei de raiva (foi minha mãe
quem me explicou isso, e esse foi um dia importante, quando compreendi que
podemos chorar de raiva como um primeiro passo para TOMAR A DECISÃO DE AGIR, de
NÃO SE DEIXAR EXPLORAR, de se REVOLTAR). Talvez houvesse também um prazer
secreto em chorar. Um dia, enquanto chorava, cruzei por acaso com o meu reflexo
no espelho: vi minha própria imagem toda enrugada, meus lábios todo contraídos,
minhas lágrimas. E nesse dia eu parei de chorar. Mas ainda hoje acontece, até
com alguma frequência, que eu tenha vontade de chorar quando uma emoção toma
conta de mim, me submerge. Por exemplo, quando ouço certas músicas. ”
Georges Didi-Huberman
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