quarta-feira, 13 de outubro de 2010

DEPÓSITOS

Paráfrase à Borges

Se morrer fosse minha função, traria em toda morte toda a vida possível.
Erraria como nômade, em tensão de percurso, seria tolo de todos.
Levaria a sério o amor e a natureza;
deixaria que os riscos em mim aflorassem.
Seria cabeça do céu,
de todos os céus,
alpinista de precipícios,
peixe dos rios,
investigador do insólito.

Beberia o mel de pequenas plantas e plantaria lírios dulcíssimos.
Teria problemas irreais e faria do imaginário minha razão.

(Eu fui uma pessoa insensata e de produção duvidosa em cada instante).

Tive tanta tristeza que a alegria me fez dom!
E se...
morrer fosse o objetivo, o eterno paradoxo, morreria mil vezes e viveria uma
porque é disso que é feita a morte – de vida!
Só de transições.

Se eu pudesse romper o irreversível, controlaria o tempo de tudo e de todos;
instrumentos musicais espalharia em cada canto e fundiria as 4 estações,
construiria ruas de sonhos
iluminaria os olhos com a luz do sol e pintaria as bocas com a prata da lua
me tornaria criança até o fim.

Se eu tivesse outra vez uma morte pela frente,
passaria a vida lendo Borges.

Almir Nilson Rodrigues

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