sábado, 9 de outubro de 2010

NINGUÉM É SUBSTITUÍVEL

Recebi queixa recente de um amigo que diz que faz semanas que não posto nada de novo aqui. Sei que desculpas de nada adiantam, mas é que a vida nos atira de lá pra cá e às vezes a gente fica devendo o prometido.
Quando pus como subtítulo deste blog “Escrever Para Não enlouquecer” foi para ser levado à sério no que me refiro à loucura. Escrever é um lenitivo para mim por que me reajusta e dá sentido à borrasca de idéias, pensamentos e sensações no qual estou submerso e muitas vezes me perco. Escrevo para encontrar um norte. Então vamos lá!
Soube recentemente que a Escola Pernambucana de Circo vai voltar com a temporada de "Ilusão - Um Ensaio Melodramático Circense", espetáculo que escrevi e dirigi em 2008, quando lá trabalhava como diretor artístico. Estou curiosíssimo de voltar a ver o trabalho, porque o elenco (composto de jovens e adolescentes) é quase totalmente outro e um elenco trocado pode alterar substancialmente uma obra que acontece ao vivo diante do espectador.
Uma pessoa não é igual a outra, um ator não é igual a outro, por isso é que eu acho que é impossível substituir quem quer que seja, ainda mais num espetáculo de teatro. Para mim a máxima é invertida: “ninguém é substituível; ninguém substitui ninguém; cada um é singular”. Pelo menos não se pode trocar um ator numa obra teatral, sem alterá-la. Substituir é alterar. Nem numa obra cinematográfica se poderá, eu acho. Façamos o exercício: Dustin Hoffman no lugar de Jack Nicholson no filme “Um Estranho No Ninho”, teria funcionado? Sim, acredito que teria. Mas numa outra clave. Certamente muito boa , porque se trata de um ator de alto calibre, mas não seria o filme que conhecemos. Um ator é um mundo diferente, um labirinto distinto de outro labirinto, diferente de outro mundo. As experiências podem ser parecidas, mas não são iguais. Por isso sempre que há substituição, a obra se altera. Não foi assim com a peça do Samuel Santos (“Cordel do amor Sem Fim”)? Vi o espetáculo no inicio do ano e depois agora a pouco no Festival de Inverno de Garanhuns. Distintíssimo! Outra coisa! Saiu uma atriz, entrou outra no lugar e o trabalho virou outro.
Almir Rodrigues, um homem de teatro a quem devo muito do olhar que lanço sobre as coisas, objetos e pessoas, que me ensinou a olhar e ver, mecanismos essenciais para quem se mete a dirigir teatro ou filme, sempre me falou que há coisas novas esperando para serem descobertas por aí, no meio mdo cotidiano, na paisagem circundante, na vida. Há algo mais instigante para quem lida com arte? Sem acreditar no mistério, se tudo já foi dito e feito, para que redizer e repisar o já por demais pisado e redito? Isso eu não quero pra mim. É preciso se imbricar numa seara nova: real, fantasiosa, verdadeira. É possível que a arte seja uma aventura com riscos, subidas, descidas, superfícies, texturas e profundidades? Sim, é. E nessa viagem cada piloto, como na vida, não será jamais ser passível de substituição.

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