terça-feira, 7 de outubro de 2014

Você sai da reunião mais cansado do que quando entrou.
Era um piano antes. Agora são dois e um pianista gordo montado em cima.
Doem suas costas. E sua cabeça gira em muitas dimensões,
Noutras direções,
Tateando palavras, juntando cacos que façam algum sentido.
Miranda, a majestade de cultura pífia, como tantas outras majestades,
Manda que todos se calem para que possa desfilar seu poderzinho tacanho.
Você desvia o olhar para a janela de vidro baço.
Mantém lá fora, o quanto pode, o seu olhar, seus pensamentos seus sonhos.
Aqui tudo isso vale nadas.
Percebe no fim de tarde, quase noite,
A tempestade evoluir num cinzento céu de setembro.
Enquanto se avoluma a cauda do piano
E o gordo pianista cria árias
Em acordes desarmônicos.


sexta-feira, 3 de outubro de 2014

… para não dormir na soparia.

Ana Paula Sá

Era só uma garoa quando eu voltava pra casa depois da labuta, as ruas já desertas, e eu pensava quanto tempo se passou desde a última garoa que eu tomei por estas mesmas ruas, e avaliava a diferença entre a chuva no interior e a chuva na capital (meu pragmatismo sem fim).
Chuva no interior não abala o mundo, não instala o caos no trânsito, não traz a garantia do banho arremessado pelos pneus. Chuva no interior aumenta a solidão das ruas e a gente consegue ver as sombras brincando nas poças, de repente preenchendo os espaços, agora mais ocupados que antes. Chuva no interior traz essa felicidade suprema da água que cai milagrosamente dos céus, que lava o chão, os telhados, as árvores, que traz uma correnteza pelas ladeiras de poeira seca.
E enquanto eu jantava, a chuva virou temporal. A amiga ligou para dizer que não ia sair de casa para dar aula, porque tava difícil sair, e eu achei exagero. A criança gritou porque o guarda-chuvas caiu (pena que não guarda mesmo). Eu olhei pro poste e sorri. Torci para que não passasse mesmo e espantesse o político que insiste no comício farsesco (me permitam o termo). E ouvi que no sertão chove assim por estes dias. (Que maravilha!). E ouvi a ligação: "põe os baldes nas pingueiras para recolher água e lavar os cabelos", porque esta água é melhor. E eu que negava a dica materna de lavar os cabelos com água mineral, rejeitei o presente do botijão de água para este fim específico, por convicção humanitária diante do absurdo crime, acreditei na senhora a minha frente, feliz por novas águas para o cabelo, para a cabeça, para a alma.
Vim pelas ruas… (para casa) dois quarteirões apenas. Cabelos em bicas, calçados assobiando águas, casaco protegendo metade do corpo. Alma inundada. Alegria e prece, para que estas águas lavem os caminhos, as vidas, as esperanças. Levem as tristezas, mazelas, amarguras, disputas. Fortaleça nossos espíritos e encham as cachoeiras dos sertões, para que eu possa novamente me inundar nas suas águas, fortalecer meu espírito.

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

A pergunta que deve ser feita hoje (e que efetivamente faço) é: por que é que há tanta gente DESONESTA? Por que é que a probidade, a honradez, o decoro, andam tão capengas e fora de moda? E não é só na política, não. Infelizmente. As diversas searas (Saaras?!) da vida social estão assoladas completamente pela falta de compreensão do espaço do outro, de respeito por este outro, de boa vontade para com a alteridade. E se alguém pode dar rasteiras, puxar tapetes, com carinhas de bom moço, dificilmente não o fará. Claro que não são todos (graças aos céus!).  Mas tem gente que virou professor da Universidade por conchavo, por safadeza, por afinidades eletivas (afetivas) mais que por real mérito (alias tem tanta gente sem mérito nestas instituições de ensino que nem vale a pena ficar falando nisso). Tem tanto policial que se entende acima de qualquer direito de quase todo cidadão que lhe passa na frente, que é de dar nojo. Tão bom que fossem multados os senhores policias que estacionam em lugares proibidos. (Não entendem que o “proibido” é para qualquer um, inclusive para eles mesmos, os representantes da Lei?) Há tantos artista que são “geniais” e as suas “genialidades” lhes dão, acreditam, poderes de passar por cima de qualquer um reles mortal. Há tantos juízes, que pelo amor de Deus! Sim, há tantos outros que por qualquer patente baixa se lança nos picos do manda-manda. Vocês têm ideia de quanta gente F-D-P te sorri e o sorriso é só uma forma de disfarçar o mal caráter, de dar boa aparência ao esgoto que lhes vai por dentro? Sim, devem estar pensando: “Que cara mais casmurro!”. Casmurro não. Cheio. Perdoe-me. É que ando de fato muito cheio de muita coisa e de muita gente (que nem gente mesmo de verdade é).