quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

II

Sim. Multidões. Sabemos. Uma face para cada situação, um sorriso para cada esquina, uma opinião para cada episódio, um pensamento para cada hora do dia.., tudo mutável, adaptável, flexível, encaixado, combinado, justaposto! Mas nada autêntico, verdadeiro, inteiro, genuíno. Não mais.

Como quem antigamente vendia bugigangas nos portões das casas, de rua em rua, aquele velho homem do carnê, que oferecia panelas, travesseiros, tesouras, livros, bonecos, conforme a necessidade das freguesas, cavamos, esculpimos, erigimos, para cada obstáculo, barreira, fosso, fossa, embaraço, impedimento, uma saída pela direita, pela esquerda, para baixo, para o alto, de viés, à francesa, como for. Importante é se sair bem na coluna, no registro, na fotografia, ser genial... ou melhor, parecer.

No fim, somado tudo e passada a régua, o que sobra é uma indagação sem respostas: Quantas máscaras conseguimos esconder, meu bem, por debaixo da maquilagem? Quantas por sob a pele do rosto? Quantas vezes hoje na vida se consegue ser sincero, verdadeiramente sincero e não só em partes, pela metade, a prazo, e dizer a que se veio, o que se sente, como se vê, o que se quer?

Quando conheci você, há muitos anos, era ainda uma criança miúda, quase de colo ainda e, pelo que lembro - malgrado a minha memória parca, porca, sofrida, em rota de virar branca página -, havia luz na sua fronte. Curiosa, inquieta, cheia de viço, sem vícios, tinha ímpetos de ir além das curvas da estrada, pedia com olhar de anjo para irmos ver o que estava para além e, quando a noite caia, já tínhamos andado léguas, numa estrada de silêncio e pó.

Dava gosto ir vê-la. Dava alegria encontrá-la com direito a braços abertos e sorrisos largos. Aonde foram parar os seus festivos desejos de bem-vindo? Em que parte exata da estrada você deixou de ser você?

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