A gente esquece, tem vez, que há obras que se perpetuam, apesar já irem distante a data de nascimento. Ontem vi “Casablanca”, de Michael Curtiz, estrelado por Humphrey Bogart e Ingrid Bergman. Diálogos irretocáveis dos irmãos Epstein (Julius e Philip) e Howard Koch. Fantástico (de verdade!) como um filme de 1942 possa nos comover tanto, trabalhando com destreza o não-dito, o subentendido, com tamanha delicadeza. Nestes tempos de agora em que a pieguice e as mensagens (mais que) explícitas tomam conta de tudo, é mais que merecido um descanso, passagem rápida pelo Rick’s Bar para ouvir o Sam cantar AS TIME GOES BY.
terça-feira, 27 de dezembro de 2011
quarta-feira, 21 de dezembro de 2011
Año Nuevo
A las doce de la noche, por las puertas de la gloria
y al fulgor de perla y oro de una luz extraterrestre,
sale en hombros de cuatro ángeles, y en su silla gestatoria,
San Silvestre.
Más hermoso que un rey mago, lleva puesta la tiara,
de que son bellos diamantes Sirio, Arturo y Orión;
y el anillo de su diestra hecho cual si fuese para
Salomón.
Sus pies cubren los joyeles de la Osa adamantina,
y su capa raras piedras de una ilustre Visapur;
y colgada sobre el pecho resplandece la divina
Cruz del Sur.
Va el pontífice hacia Oriente; ¿va a encontrar el áureo barco
donde al brillo de la aurora viene en triunfo el rey Enero?
Ya la aljaba de Diciembre se fue toda por el arco
del Arquero.
A la orilla del abismo misterioso de lo Eterno
el inmenso Sagitario no se cansa de flechar;
le sustenta el frío Polo, lo corona el blanco Invierno
y le cubre los riñones el vellón azul del mar.
Cada flecha que dispara, cada flecha es una hora;
doce aljabas cada año para él trae el rey Enero;
en la sombra se destaca la figura vencedora
del Arquero.
Al redor de la figura del gigante se oye el vuelo
misterioso y fugitivo de las almas que se van,
y el ruido con que pasa por la bóveda del cielo
con sus alas membranosas el murciélago Satán.
San Silvestre, bajo el palio de un zodíaco de virtudes,
del celeste Vaticano se detiene en los umbrales
mientras himnos y motetes canta un coro de laúdes
inmortales.
Reza el santo y pontifica y al mirar que viene el barco
donde en triunfo llega Enero,
ante Dios bendice al mundo y su brazo abarca el arco
y el Arquero
Rubén Darío
quinta-feira, 15 de dezembro de 2011
Diálogos
A gente vive, se alegra, se entristece, torce, peleja, descansa pouco, pensa muito, tenta produzir (às vezes coisas boas, às vezes deploráveis), briga, ama, odeia, escreve, se encontra, troca palavras, tapas, beijos, telefonemas, lembra, esquece, esmorece, cai, pragueja, bendiz, torna a se levantar, diz que é pra nunca mais outra vez, faz tudo novamente, erra, acerta, se apequena, se engrandece, amadurece, apodrece até tem vez, lapida, joga fora, festeja, chora, se enfurece, reivindica, quer o melhor, quer o pior, se engaja, se engana, se ilude, acorda, sonha, proseia, poetiza, vai com os amigos, aos trancos e barrancos, vai só, espera, desespera, destrambelha, gera coisas, fatos, objetos, espetáculos, filmes, amores, participa, desestabiliza, diz adeus, promete mudanças, nuanças, novidades, é corajoso, dependendo do dia, do monstro, arrisca, foge, teme, se esconde, tem fé, desejos, cicatrizes, deseja, vive, sofre, ama (ou não) e morre (com certeza).
Eu, particularmente, neste 2011 que agoniza, procurei o mais que pude dialogar com os meus, os que compõem hoje comigo a paisagem do mundo. Eu, que não tenho telefone celular (que me recuso a possuir um desses infernais aparelhinhos), estou com dois blogs (http://www.danthesco.blogspot.com e http://cantoscasasruasequintais.blogspot.com) à espera de que vocês, meus diletos amigos, meus inimigos ocultos, ou declarados divergentes, me escrevam mais, opinem, troquem comigo idéias, falas, observações, críticas.
Teatro, Cinema, Literatura, Música... são mundos também a que pertenço. Quem possa se interessar, me chame, conclame, invoque, pragueje. Eu gosto de conversar.
Às vezes esses troços todos de redes sociais (Facebook, Twitter, Orkut, Gazzag, Hi5, My Space, Skoob, Wallop, etc) me parecem espaços destinados a tanto lixo, que chego a desanimar. Por isso, hoje, pensei que podia contar com vocês, pedir a atenção, o entendimento, para a gente conversar mais, dialogar mais, ficar mais juntos na construção de um diálogo neste nascente 2012. Quem puder, comece ai pelos blogs acima citados, participem. Será um prazer imenso ficar junto a vocês, vez em quando, um tantinho que seja.
quarta-feira, 14 de dezembro de 2011
II
Sim. Multidões. Sabemos. Uma face para cada situação, um sorriso para cada esquina, uma opinião para cada episódio, um pensamento para cada hora do dia.., tudo mutável, adaptável, flexível, encaixado, combinado, justaposto! Mas nada autêntico, verdadeiro, inteiro, genuíno. Não mais.
Como quem antigamente vendia bugigangas nos portões das casas, de rua em rua, aquele velho homem do carnê, que oferecia panelas, travesseiros, tesouras, livros, bonecos, conforme a necessidade das freguesas, cavamos, esculpimos, erigimos, para cada obstáculo, barreira, fosso, fossa, embaraço, impedimento, uma saída pela direita, pela esquerda, para baixo, para o alto, de viés, à francesa, como for. Importante é se sair bem na coluna, no registro, na fotografia, ser genial... ou melhor, parecer.
No fim, somado tudo e passada a régua, o que sobra é uma indagação sem respostas: Quantas máscaras conseguimos esconder, meu bem, por debaixo da maquilagem? Quantas por sob a pele do rosto? Quantas vezes hoje na vida se consegue ser sincero, verdadeiramente sincero e não só em partes, pela metade, a prazo, e dizer a que se veio, o que se sente, como se vê, o que se quer?
Quando conheci você, há muitos anos, era ainda uma criança miúda, quase de colo ainda e, pelo que lembro - malgrado a minha memória parca, porca, sofrida, em rota de virar branca página -, havia luz na sua fronte. Curiosa, inquieta, cheia de viço, sem vícios, tinha ímpetos de ir além das curvas da estrada, pedia com olhar de anjo para irmos ver o que estava para além e, quando a noite caia, já tínhamos andado léguas, numa estrada de silêncio e pó.
Dava gosto ir vê-la. Dava alegria encontrá-la com direito a braços abertos e sorrisos largos. Aonde foram parar os seus festivos desejos de bem-vindo? Em que parte exata da estrada você deixou de ser você?
Como quem antigamente vendia bugigangas nos portões das casas, de rua em rua, aquele velho homem do carnê, que oferecia panelas, travesseiros, tesouras, livros, bonecos, conforme a necessidade das freguesas, cavamos, esculpimos, erigimos, para cada obstáculo, barreira, fosso, fossa, embaraço, impedimento, uma saída pela direita, pela esquerda, para baixo, para o alto, de viés, à francesa, como for. Importante é se sair bem na coluna, no registro, na fotografia, ser genial... ou melhor, parecer.
No fim, somado tudo e passada a régua, o que sobra é uma indagação sem respostas: Quantas máscaras conseguimos esconder, meu bem, por debaixo da maquilagem? Quantas por sob a pele do rosto? Quantas vezes hoje na vida se consegue ser sincero, verdadeiramente sincero e não só em partes, pela metade, a prazo, e dizer a que se veio, o que se sente, como se vê, o que se quer?
Quando conheci você, há muitos anos, era ainda uma criança miúda, quase de colo ainda e, pelo que lembro - malgrado a minha memória parca, porca, sofrida, em rota de virar branca página -, havia luz na sua fronte. Curiosa, inquieta, cheia de viço, sem vícios, tinha ímpetos de ir além das curvas da estrada, pedia com olhar de anjo para irmos ver o que estava para além e, quando a noite caia, já tínhamos andado léguas, numa estrada de silêncio e pó.
Dava gosto ir vê-la. Dava alegria encontrá-la com direito a braços abertos e sorrisos largos. Aonde foram parar os seus festivos desejos de bem-vindo? Em que parte exata da estrada você deixou de ser você?
sexta-feira, 9 de dezembro de 2011
Vagalume
Isso fazia parte da inteireza de meus sonhos.
Guardava a sete chaves,
Como quem escondia tesouros no quintal,
Um segredo sagrado nas arcas do sótão.
Mesmo com toda injustiça posta,
Com toda peleja que é levar avante a vidinha bosta,
Com as cores em decaídas de semitons
Com sofridos partos de cada dia,
Se pudesse ser seria
Poeta, daqueles, bons.
Ah! Quem me dera o dom de
Fazer passar por palavras
As imagens comoventes
Mãe com um pote d’água na cabeça
Lençol balançando em poentes
Varais de roupas lavadas
Deságuas do riachinho
E um menininho, eu,
À sombra de uma mangueira
Esperando a enxaguada hora
Pra daí voltar para casa,
Com cheiro de café preto de pilão
Em fim de tarde chuviscosa
Pouco antes da gente ingressar
Na noite dos candeeiros.
Se um dia eu fosse poeta
Pintaria em aquarelas
Esse sons de vagalumes
Com a vovó costurando
Os pedaços de mim sobrados
Em lençóis de retalhos.
Guardava a sete chaves,
Como quem escondia tesouros no quintal,
Um segredo sagrado nas arcas do sótão.
Mesmo com toda injustiça posta,
Com toda peleja que é levar avante a vidinha bosta,
Com as cores em decaídas de semitons
Com sofridos partos de cada dia,
Se pudesse ser seria
Poeta, daqueles, bons.
Ah! Quem me dera o dom de
Fazer passar por palavras
As imagens comoventes
Mãe com um pote d’água na cabeça
Lençol balançando em poentes
Varais de roupas lavadas
Deságuas do riachinho
E um menininho, eu,
À sombra de uma mangueira
Esperando a enxaguada hora
Pra daí voltar para casa,
Com cheiro de café preto de pilão
Em fim de tarde chuviscosa
Pouco antes da gente ingressar
Na noite dos candeeiros.
Se um dia eu fosse poeta
Pintaria em aquarelas
Esse sons de vagalumes
Com a vovó costurando
Os pedaços de mim sobrados
Em lençóis de retalhos.
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