terça-feira, 21 de junho de 2011

Transição perene

Ai!
Percebendo que tudo sabia
o engodo da vida refloresce vívido.
Cada ato parece ocultar,
parece poder ocultar,
outrem,
de vários, de muitos
e não se esquece em você.

Seu outro, no travesseiro vizinho,
são seus olhos.

Percrustam,
os acúmulos estapafúrdios,
gordurosos
no corpo já balofo
- não redondo e circular.

E...

Desassossego do arfar, o peso,
o cansaço, a não vontade,
desmonta,
põe a um canto,
traz a sofreguidão.

Não são seus olhos,
seu outro, no travesseiro vizinho.

E...

Constante é a vigília
alerta em você
imberbe e dissimuladora.
Finge não existir o original,
que é, sempre foi,
lado a lado,
o eterno morto,
o não vivente,
só o desconhecimento,
de si em si.

Respira e se eleva,
a compreensão se ocupa!

Toda a divisão
no corpo único
vaza seus complementos.

Seu outro, no travesseiro vizinho,
não são seus olhos.

Agora, a distinta hora,
não mais trará o frescor,
pelo menos consigo.

O que nunca se reconheceu
sabendo estar vivo e
não vivente,
foi vencido pelo seu ir.

Seu outro deitado ao lado
olha-te com olhos
que nem dele são
nem olhos seus serão.

Não há mais tempo!
A brevidade eterna da vida
cumpriu-se. (em você).

Ninguém saberá que faltou o reconhecimento.

Ninguém saberá
amiúde
do reconhecimento.

Dei por 27/12/2009

Almir Rodrigues

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