Diálogos do presidente dos Estados Unidos
revelados em gravações da Casa Branca, uma frota naval com um porta-aviões e
navios torpedeiros parte da costa norte-americana em direção ao Brasil e um
plano de contingência prevê detalhes de um golpe de Estado no maior país da
América Latina.
Essas cenas não são de um filme de ficção. Elas
estão no documentário brasileiro "O Dia que Durou 21 Anos", que
estreia hoje nos cinemas -- às vésperas do aniversário de 49 anos do golpe
militar de 1964.
Com direção de Camilo Tavares, o filme destaca o
papel dos Estados Unidos para a criação de um ambiente que resultaria no golpe
para derrubar o presidente João Goulart, dando início aos 21 anos da ditadura
militar no Brasil.
A origem da pesquisa para o filme coincide com a
busca pela origem de sua própria história, diz Camilo, que nasceu no México,
onde seus pais viviam exilados, em 1971, no auge da ditadura militar.
Camilo é filho de Flávio Tavares, um dos 15
presos políticos libertados em troca do embaixador norte-americano sequestrado,
Charles Elbrick.
"Queria entender por que sequestraram um americano. A gente tem pouca noção de quanto os Estados Unidos interferiram [no golpe]. Então o filme foi uma busca por essa resposta", disse à Folha.
"Queria entender por que sequestraram um americano. A gente tem pouca noção de quanto os Estados Unidos interferiram [no golpe]. Então o filme foi uma busca por essa resposta", disse à Folha.
Resultado de uma pesquisa que durou mais de três
anos, o documentário usa como fonte gravações de diálogos da Casa Branca de
1962 a 1964, recentemente tornadas públicas.
Entre elas, uma de junho de 1962 em que "o
embaixador dos EUA no Brasil Lincoln Gordon expõe ao então presidente John F.
Kennedy a necessidade de uma infiltração nas Forças Armadas brasileiras",
conta Flávio Tavares, pai de Camilo e que também participou da produção.
Telegramas do Departamento de Estado dos EUA e
arquivos de ex-presidentes norte-americanos também são usados como fontes e
revelam "ordens expressas para uma infiltração nas Forças Armadas
brasileiras", diz Flávio.
Segundo relatos no filme, a interferência seria
consolidada pelo embaixador Gordon e pelo general Vernon Walters, adido militar
dos EUA no Brasil de 1962 a 1967.
Os documentos detalham a operação Brother Sam,
deflagrada em 31 de março de 1964 e que consistia em uma frota naval vinda dos
EUA em direção ao Brasil --que invadiria o país caso não fosse bem sucedida a
derrubada do presidente João Goulart.
O apoio logístico da Marinha dos EUA contava com
porta-aviões, navios petroleiros, torpedeiros, aviões-caça e munição. Com a
confirmação do golpe, a operação foi desativada, quando se encontrava no mar do
Caribe.
O filme traz ainda detalhes de um plano de
contingência que previa as etapas do golpe. Entre elas, um Estado deveria se
declarar contra o governo de Jango, como fez Minas Gerais, e os EUA deveriam
reconhecer um presidente constitucional antes de um militar, como ocorreu com o
então presidente da Câmara, deputado Ranieri Mazzilli.
"Foi chocante encontrar esse plano, porque
ele previu exatamente o que aconteceu", disse o historiador Carlos Fico,
da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), um dos entrevistados no filme
de Camilo Tavares.
O DIA QUE DUROU 21 ANOS
DIREÇÃO Camilo Tavares
PRODUÇÃO Brasil, 2012
77 minutos
CLASSIFICAÇÃO 14 anos
DIREÇÃO Camilo Tavares
PRODUÇÃO Brasil, 2012
77 minutos
CLASSIFICAÇÃO 14 anos
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