Resenha de Alexandre Madruga para
Estética e Cultura de Massa II, professor
Ivan Capeller
O cineasta documentarista chileno Patrício Guzmán produz
nesse documentário histórico, feito após seis anos de trabalho, mais de cinco
horas de filmagem, subdivididas em três partes, no qual mostra o crescimento e
a queda de Salvador Allende.
A primeira parte da filmagem, "A Insurreição
da Burguesia" (1975), relata a reação da direita contra a tentativa o
socialismo democrático no país que tentava ser implementado, com greves por
sindicatos e o boicote econômico, que teve influência do governo dos EUA.
"O Golpe de Estado" (1977), que é a segunda
parte do documentário, fixa o foco na guerra civil que levou ao bombardeio do
Palácio de La Moneda e à morte do presidente em 11 de setembro de 1973, sob a
liderança de uma junta militar encabeçada por Pinochet.
"O Poder Popular" (1979) finaliza a
filmagem, revelando algumas ações coletivas realizadas por populares com
intuito de acabar com a crise durante o governo Allende, como armazéns
comunitários e comitês camponeses, que serviam de sustento para alimentação de
parte da população.
“Batalha” foi considerado um dos melhores documentários políticos da
história, relatando a primeira transição democrática ao socialismo da história
da América Latina
Para a crítica norte-americana
Pauline Kael, "como uma
equipe de cinco pessoas, algumas
delas sem nenhuma
experiência prévia, conseguiu
produzir uma obra dessa
magnitude?" O documentarista
João Moreira Salles,
responde que "ao longo
daqueles anos, a história estava
em marcha e havia alguém com a
férrea disposição de
não desligar a câmera." Esse
desejo de levar o cinema às
últimas conseqüências fica
evidente na cena mais famosa
do filme, em que um cinegrafista
baleado pela polícia
filma a própria morte.(1)
O documentário mostra um país em extrema tensão, uma
população rachada ao meio entre esquerda e direita, numa realidade caótica de
greves, passeatas, manobras políticas, que finalizam com um golpe militar e a
morte (assassinato) do Presidente Allende.
A criação do documentário ganha ares épicos, por toda
sua trajetória percorrida pelos cinco integrantes da equipe de filmagem, até a
chegada das latas de negativo (de forma clandestina) por navio para Cuba, onde
o Guzmán montou o filme com a ajuda do Instituto del Arte y la Industria
Cinematográficos (Icaic). A “via crucis” de Guzmán após as filmagens foi grande,
pois logo depois da conclusão do trabalho, foi preso em casa, levado ao Estádio
Nacional e ameaçado de fuzilamento, no entanto acabou posto em liberdade. Já o
cinegrafista Jorge Muller Silva desapareceu de vez, depois de ser seqüestrado pela
polícia militar.
A produção teve o claro intuito de demonstrar como ocorreu
todo o processo, apresentando as prévias dos acontecimentos, como eram
arquitetados e por quem, mostrando todos os lados da questão de maneira
exaustiva, deixando claro ao espectador a real situação chilena da época. A locução
em off deixa o espectador ciente e consciente dos acontecimentos, permitindo
toda e necessária compreensão do golpe. Filmou desde assembléias de fábricas,
passando por trabalhadores do campo, moradores de bairros construindo um
abastecimento alternativo, até militantes de direita. Guzmán registra e analisa
toda a caminhada chilena
pela via democrática ao socialismo, abordando temas
difíceis como as nacionalizações, o apoio ambíguo da presidência ao processo de
construção do "poder popular" que se dava com as ocupações, além da
participação direta através de assembléias locais e regionais, e as contradições
entre este poder popular e um Estado que acabou paralisado pelo Congresso e as
ações de sabotagem apoiadas pela CIA e pelas elites.
Para João Moreira Salles, “O
resultado é um filme
inegavelmente belo, decididamente
épico e certamente
trágico. (...) Guzmán filmou
tudo, até o último momento.”
O jornal espanhol Cambio 16
escreveu: "A Batalha do
Chile é o filme mais
impressionante exibido em Cannes
este ano". Na França, o Le
Monde acompanhou: "É a
primeira obra de arte a encarnar
uma nova forma de
analisar a história." O Los
Angeles Times concordou:
"Um documentário admirável
sobre um país que é lançado
no caos com a inevitabilidade de
uma tragédia grega".(2)
Apesar da eleição de Allende, da esquerda chilena, é
curioso perceber que a maior parte da grande mídia era controlada pela oposição
de direita. A mais perigosa era a emissora de TV, Canal 13, com grande
audiência popular e com fortes interesses conservadores que Guzmán usava um
crachá falso da emissora para entrevistar esse público.Graças a essa
iniciativa, conseguiu passar para o documentário o clima de revolta da classe
média e da burguesia em relação às medidas populares do governo Allende. Esse é
apenas alguns aspectos do belíssimo documentário. Trata-se de uma obra
obrigatória para estudantes discentes em geral e comunicadores.
1.
Revista Núcleo Piratininga de Comunicação, Edições 094,
Fevereiro de 2006
2. Depoimentos ao Portal midiaindependente.org - Dissertação baseada nos
capítulos apresentados no Auditório Hanns Donner da UniSuam / Bonsucesso e nos
extras do Box “Batalha do Chile” em “Patricio Guzmán: uma história chilena”
(2001); “A resistência final de Salvador Allende” (1988), “Entrevista de José
Carlos Avellar com Patrício Guzmán” (2005), além da “Filmografia do diretor”.
http://alexandremadruga.files.wordpress.com/2011/08/a-batalha-do-chile-resenha.pdf
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