quarta-feira, 23 de maio de 2012

Pêsames

Desculpem aí a minha fala triste de hoje. Não precisam ler, se não quiserem. Mas é que tem coisas que me roubam o chão, o norte e o gosto por viver.  Não sei se com todo mundo é assim. O suicídio, por exemplo, é uma delas. A principio, a morte, qualquer morte, me desestabiliza: a que leva tempo para se concretizar, se artefinalizando sem pressa, dia após dia, esculpindo no ser agonizante, com esmero, um cadáver, até que venha o derradeiro e desejado suspiro, a ultima batida no cinzel e a obra está acabada; e também aquela outra, que de súbito chega, sem recados, sem rodeios, pragmática, retirando num susto a peça do tabuleiro. Todas doem. Mas nenhuma deixa tanto amagor quanto saber de alguém que a si mesmo deu fim.
Ontem eu soube de Aldo. Conheci-o quando ministrava um minicurso de teatro no Córrego do Jenipapo, em Recife, há mais uma década. Ele então devia ter 13 ou 14 anos de idade e era um dos mais animados com os encontros. Montamos um Auto de Natal superdivertido, insubmisso, sem pieguices, inquietante e feliz. Não lembro qual papel ele desempenhava, mas lembro dele lá super atento, instigadíssimo. Naquele tempo ele começou a namorar Patrícia, uma mocinha de olhos claros e jeito doce, que vinha apenas para espiar, mas que não era da comunidade. Depois, como tinha de ser, nos perdemos todos de vista. Soube apenas um dia que Aldo e Patrícia haviam casado. E que tiveram um filho ou filha, não sei. E que estavam felizes, tocando a vida deles lá.
Então ontem, casualmente, entrei em uma loja a fim de comprar uma carteira nova e uma das atendentes era uma amiga dos tempos do auto de Natal. “Você soube do Aldo?”, perguntou. Deu um frio na espinha. Não, eu não sabia do Aldo. O que tinha havido? “Pois é, mês passado, tomou uma dose grande de chumbinho (raticida) e se foi”.
Assim, de forma direta, nua e crua: se foi.
Leva tempo para acreditar. E sempre dói para quem fica.
Sabe quando de repente uma paulada faz a gente perder os sentidos? Pois, é. Que pena! Veio aquele nó na garganta, apertado, uma vontade de chorar, de reclamar seja lá com quem for, uma falta de ar, um não sei quê. Vieram lembranças antigas, outras histórias de amigos e conhecidos, que se não foram, tentaram pelo menos. Por amor, por dívida, por desilusão, por não conseguir continuar, por desespero, por depressão, das mais diferentes formas. O fato é que alguns até que conseguiram. Deixando aos que ficaram as interrogações e descrenças.
Aldo se foi, querendo ir,por vontade própria, conscientemente. Pôs ponto final a tudo, por desrazão ou por excesso de motivos. E é tudo... infelizmente.

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