Ah, sim! Bonita lá
era, a danada da menina Simone chamada. Cachos ruivos na fronte de sardas;
sorriso largo, alvíssimo, olhos grandes caprichados no castanho-puxado-pro-amarelo,
quase damascoso. Nem alta, nem baixa. 12 anos de enxerimento, 12 anos somente, meu
Deus!, mas já cheia de graças e trejeitos, seios rascunhando espevitamentos no
corpo da mulher por vir, já nutrindo querências.
Ela tinha gosto em
ser vista, a desgraçada. Dava pra sentir isso nos olhos dela, no sorriso de
canto de boca, no pseudo-desdém. O que tinha de bonita, tinha de tinhosa.
Faceira, desmedida nas sinuosidades, bamboleava pelas ruas, toda dona do ser.
As inocências, começava a perder todas, uma a uma, safaaaaaada que era demais,
um cãozinho com cara de arcanjo, a fazer descobertas, experimentando façanhas,
andares, biquinhos, modos de endoidar homens ainda meninos e também os
homens-homens feitos, barbudos, prontos, testados.
Costumava, nos fins
de tarde, caçar pão na padaria, a mando da avó. Pegava a bicicleta da prima e
lá se ia numa roupinha curta, um short, uma saia miúda por demais, as pernas
grossas de fora, os pêlos finos, blusas sem mangas de número bem maior que o
dela, sem sutiã, atraindo, feito um imã, as fantasias dos seres, que
alimentavam as suas. Ela se ria gostoso, imaginando as intumescências... um
sorriso safado, mal disfarçado, matreiro, rascunhado no rosto.
Na hora do recreio,
pátio da escola, pino do meio-dia, à la normalista, ela tinha o hábito
de armar arapucas para os de quem se engraçava. Era um espelho redondo, desses
de bolso, antigamente usados pelos mais velhos. De propósita malícia, deixava-o
no chão com a face espelhada para cima, a refletir o céu. E como quem lança
convite, pedia ingenuamente que um menino ou outro apanhasse para ela o tal
objeto. E no imediato com que o escolhido se baixava, ela abria um tantinho
mais as pernas no intento de que mais luz pudesse deixar o gentil cavalheiro
entrever as suas partes púbicas, desnudas, penugens nascentes, no fundo
semi-escuro da saia refletida na lâmina de vidro.
Certa vez, Antônio
Amaro foi pego no banheiro masculino, fazendo safadezas com as mãos. Foi levado
à secretaria aos empurrões, que nem criminoso. Perguntado do porquê tinha feito
aquela coisa pecaminosa, não titubeou: “Simone!” As professoras ficaram
aterradas. Os professores também, embora no fundo escuro de si mesmos,
compreendessem os motivos de Toinho. A notícia se espalhou ligeira. Simone era
só sonsice. Fingia que não era com ela lá, que não tinha nada a ver com aquilo,
mas gostava. E se ria por dentro. Risadas das grandes segredadas somente para
si. Mas a gente, de fora, via lá dentro que para ela aquilo era um gozo só só.
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