domingo, 18 de setembro de 2016

Senta-se ele à mesa, na sala semiescura. E se se vê frente a frente com a brancura do papel.
Esculpir ali no vazio da página, em contraste, com tinta preta, uma a uma, as palavras que marcarão a escultura, a paisagem em desenho fértil do que ainda não há.
De dentro para fora, em claro e escuro, cava nichos, protuberâncias, figuras.
Crava, perfura, lima, rasga, risca, corta, em grossas camadas, as superfícies planas do papel.
Cria as reentrâncias, relevos, saliências, silêncios e sons.

Trabalha, enxerta, extrai, substitui, permuta, até que ganhe tridimensionalidade as imagens invisíveis e cifradas, até que, mãos leves e alma nua, a invisível efemeridade que somos, transparece e ganha vida e vira música.

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