"Para Jacques Derrida (…), o poema vem sempre do outro, é um
ditado do outro, que eu desejo aprender de cor, isto é, através do coração que
memoriza um texto que se define pela concisão e a economia das palavras. Há um
percurso do poema (e a poesia não existe, só existem poemas), que vai desde o
cais de partida ao porto de chegada, deixando que se inscreva no texto a marca
da origem e as vicissitudes do percurso (desfiguração, transfiguração,
indeterminação), e tendo sempre no horizonte a potencial relação com um
referente: «Come, bebe, engole a minha letra, porta-a, transporta-a em ti como
lei de uma escrita em que o teu corpo se tornou: a escrita em si». Que esta
escrita em si tenha a ver com a configuração linguística do poema de que fala
Adorno, eis o que me parece bastante óbvio. Mas o que em Derrida se reforça é a
energia do «tu» e a paixão do singular: «Chamarás poema a uma encantação
silenciosa, à ferida áfona que de ti desejo aprender de cor.»
Eduardo Prado Coelho, «Esse Pássaro Fluido»
IMPORTANTE: ver na Estante Virtual a revista INIMIGO RUMOR n.º 10 com o texto completo de Derrida.
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