segunda-feira, 29 de julho de 2013


Pinta-se com a luz, como se faz música com o silêncio.

Os espaços só viram poesia quando solicitam do olhar um olhar de novo.

As vezes penso em deixar o teatro para me dedicar às cores e tintas. Isso me fascina. Muitos artistas o palco comemorariam tal decisão. E outros tantos do pincel chorariam a iniciativa.
Sinceramente, acho que o politicamente correto pode embotar o espírito criador. Quem seria Chaplin, Faulkner, Céline, Lobato, Picasso, Kafka, se não tivessem afrontado os comportamentos tidos como certos e ordeiros? Arte, a grande Arte, nos coloca diante do inominável, do intraduzível, da fronteira da moral e bons costumes. A beleza nem sempre está de mãos dadas com a delicadeza. E há quem prefira sacrificar o ser criador no altar do bom comportamento, mas nem sempre (quase nunca) isso implica em boa arte.
A poesia não está só na Literatura, como pensam alguns. Ela está em tudo o que pode redimensionar e ampliar a esfera do nosso ser. Por isso há fotografias que têm mais poesia que um poema rimado. Tarkovsky era um poeta que escreveu com luz e tempo suas odes à existência. Que inveja! A questão é: aonde os artistas podem e desejam operar o ser poético?
Muitas vezes só conseguimos dialogar com os que pensam iguais a nós. Só com os que veem o mundo pelo nosso binóculo. Só com os que acreditam nos nossos deuses. Isso ainda é dialogar?
Vladimir Fedotko
Nascido em Leningrado, o fotógrafo e manipulador de fotos Vladimir Fedotko atualmente vive e trabalha em São Petersburgo, Rússia. Depois de descobrir o Adobe Photoshop em 2005, Fedotko usa uma combinação de processamento de desenho, fotografia e computador tradicional para criar suas imagens.

quarta-feira, 24 de julho de 2013

“O trabalho poético da tradução está no cerne de toda aprendizagem. Está no cerne da prática emancipadora do mestre ignorante. O que este ignora é a distância embrutecedora, a distância transformada em abismo radical que só um especialista pode ‘preencher’. A DISTÂNCIA NÃO É UM MAL POR ABOLIR, É A CONDIÇÃO NORMAL DE TODA COMUNICAÇÃO. Os animais humanos são animais distantes que se comunicam através da floresta de signos. A distância que o ignorante precisa transpor não é o abismo entre sua ignorância e o saber do mestre. É simplesmente o caminho que vai daquilo que ele já sabe àquilo que ele ainda ignora, mas pode aprender como aprendeu o resto, que pode aprender não para ocupar a posição do intelectual, mas para praticar melhor a arte de traduzir, de pôr suas experiências em palavras e suas palavras à prova, de traduzir suas aventuras intelectuais para uso dos outros e de contratraduzir as traduções que eles lhes apresentam de suas próprias aventuras.”

Jacques Ranciére em “O Espectador Emancipado”

quarta-feira, 10 de julho de 2013

"[...] quem somos nós, quem é cada um de nós
senão uma combinatória de experiências, de
informações, de leituras, de imaginações? Cada
vida é uma enciclopédia, uma biblioteca, um
inventário de objetos, uma amostragem de estilos,
onde tudo pode ser continuamente remexido e
reordenado de todas as maneiras possíveis"

Ítalo Calvino
Ao trabalho. Manhã cedo.
Desço do ônibus.
Na Princesa Isabel, uma lufada de vento
Varre folhas secas pelo asfalto.
De agora até fins de agosto será assim:
Muito vento e algumas chuvas.
A gente estranha a cidade com outros ares.
Penso em como devia ser 100 anos atrás.
E me dá uma alegria pensa que já foi diferente.
E me dá uma tristeza que tenhamos levado o caminho até aqui.
Enquanto isso, passam o tempo e vento
Quase desapercebidos.