terça-feira, 29 de janeiro de 2013

O Império dos Signos

“Mesmo sem considerar emblemático o jogo conhecido das caixas japonesas, alojadas uma na outra até o vazio, podemos já ver uma verdadeira meditação semântica no menor pacote japonês. Geométrico, rigorosamente desenhado e, no entanto, assinado em algum lugar por uma dobra ou um laço assimétricos, pelo cuidado, pela própria técnica de sua confecção, a combinação do papelão, da madeira, do papel, das fitas, ele já não é o acessório passageiro do objeto transportado, mas torna-se ele mesmo objeto: o invólucro, em si, é consagrado como coisa preciosa, embora gratuita; o pacote é um pensamento; (…). Assim, a caixa brinca de signo: como invólucro, écran, máscara, ela vale por aquilo que esconde, protege e contudo designa; (…) como se a função do pacote não fosse a de proteger no espaço, mas a de adiar no tempo; é no invólucro que parece investido o trabalho da confecção (do fazer), mas exatamente por isso o objeto perde algo de sua existência, torna-se miragem: de invólucro a invólucro, o significado foge, e, quando finalmente o temos (há sempre qualquer coisinha no pacote), ele parece insignificante, irrisório, vil: o prazer foi experimentado: o pacote não é vazio mas esvaziado: encontrar o objeto que está no pacote, ou o significado que está no signo, é jogá-lo fora: o que os japoneses transportam, com uma energia formigante, são afinal signos vazios. Pois há, no Japão, uma profusão daquilo que poderíamos chamar de instrumentos de transporte; eles são de toda espécie, de todas as formas, de todas as substâncias: pacotes, bolsos, bolsas, malas, panos (o fujo: lenço ou xale camponês com que se embrulha a coisa), todo cidadão tem, na rua, uma trouxa qualquer, um signo vazio, energicamente protegido, apressadamente transportado…”

ROLAND BARTHES

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