segunda-feira, 11 de junho de 2012

Dois Haicais

Saí na chuva
Coração do inverno
Buscando você.

 
Alma delira
Quando
outra encontra
Beijos sem conta

terça-feira, 5 de junho de 2012

Recife: O passado já é passado (e, em breve, esquecido)

Tempo de transformações desfila em Recife urgências tardias. Morrem jardins e, do dia para noite e da noite para o dia, velhas construções vêem abaixo indiscriminadamente. É o progresso que chega, com atraso de décadas. Novos Haussmans alargam ruas, sobem viadutos, sucumbem o passado em destroços e metralhas, contra o relógio que não cessa de correr.
A cidade, organismo vivo, é como alguém que tendo passado muito, muito tempo sem se alimentar, de repente se empanturrasse de comida em poucos minutos, com sérios riscos de indigestão. Ou um doente que exagerasse nos remédios, com riscos de entrar em coma.
Assim é que transformamos tudo sem nos ligar a nada.

segunda-feira, 4 de junho de 2012

VOCAÇÃO LITERÁRIA


Se vai tentar, vá até o fim.
Caso contrário, nem comece.
Se vai tentar, vá até o fim.
Pode perder namoradas, esposas, parentes, empregos e talvez até a cabeça.
Vá até o fim.
Pode ficar sem comer por três ou quatro dias.
Pode congelar no banco do parque.
Pode ser preso.
Pode receber escárnio, gozações, isolamento.
Isolamento é um presente, todo o resto é um teste da sua resistência, de quão forte é a sua vontade.
E você fará a despeito da rejeição e dos piores azares e será melhor do que qualquer coisa que possa imaginar.
Se vai tentar, vá até o fim.
Não há outra emoção como essa.
Você estará sozinho com os deuses e as noites queimarão como fogo.
Faça, faça, faça. faça,
até o fim, até o fim.
Você cavalgará a vida diretamente para o riso perfeito.
Essa é a única boa luta que existe.
Charles Bukowski

Tradução: Leda Beck, extraido de Viva Babel